Regional

Após 17 anos de emancipação, já na quase maioridade, Alto Alegre do Pindaré construiu sua história pela vida e luta de muitos rostos e nomes anônimos.

Começou com a busca de imigrantes por terras férteis que muito se empenharam e lutaram para fazer valer seus direitos. No entanto, mesmo tendo a quase maioria do seu território demarcado como assentamento, alguns não escaparam do trabalho escravo.
A cidade cresceu desordenadamente, sem a devida preocupação com o desenvolvimento e a ainda frágil formação econômico-social.

Como no Brasil, culturalmente temos uma tendência à metropolização, como se projetar cidades grandes e modernas seja sinal de progresso. Valorizamos o urbano, em superação ao rural ou até sua completa negação. A partir desse pensamento, foram se constituindo as cidades brasileiras desarticuladas e estritamente urbanas. Nessa profunda contradição entre urbano e rural, estabeleceu-se a mentira de que o desenvolvimento chegará com o futuro.

Mas, esquecem que o futuro é construído no agora.
Daí minha inquietação. Regra geral, esse foi o pensamento que sustentou o crescimento das cidades brasileiras, incluindo-se a nossa. Nesse sentido, qual será o futuro que teremos se, em nome da modernização da cidade, renegamos sua tradição, o conhecimento em detrimento da sabedoria popular, a culinária local, os valores de nossos antepassados e sua ecologia.

Preocupada com o desenvolvimento humano, compreendo que todos os arranjos criativos, produtivos, sociais, culturais e de convivência devem apresentar-se como um saudável desdobramento do que for qualitativo e quantitativo para a valorização da vida e, principalmente, mostre equilíbrio e harmonia de uma consciência ecológica.

Nessa perspectiva, ver, conhecer, aproveitar e usufruir, se tivermos oportunidades de modernidade, é importante; contudo, sem eliminar as diferentes experiências humanas e suas expressões fundamentais de convivência em tempos passados.

O progresso não vem com o futuro. Ele é construído no agora e só será para todos se construído com justiça e igualdade, garantida a condição de liberdade, sem custo, desde o dia de hoje.

É importante avaliarmos quais os condicionamentos ecológicos, econômicos e sociais expressos no espaço-tempo de nossa cidade que proveram o resultado.

Salvaguardadas as proporções, estamos num processo de urbanização, mas às avessas, por se fazer excludente e com prejuízo social, se não ficarmos atentos e sensíveis as condições de vida dos nossos iguais tudo passará despercebido, aparentemente ao largo da existência do cidadão comum. Pequenos povoados já se desfizeram... E sua gente, para onde vai? Este ano foi São João Mirim, um povoado criado desde 1965, com mais de 100 famílias, agora reduzido a apenas seis que, em 2010, modificaram toda sua vida, deixaram suas casas e sua história em busca de um lugar melhor para viver.  A escola nunca chegou a ser construída para suas crianças; num barracão humilde, cedido pela igreja, estudavam as poucas crianças que restaram. Imprensados por grandes proprietários de terra, as famílias estão de mudança para outros povoados ou para a sede do Município. Teremos mais pressão por assistência social, saúde, emprego e educação dada à concentração de mais pessoas vivendo juntos num menor espaço urbano. Em quanto tempo o Município perderá suas características rurais, dado o movimento populacional para sermos uma concentração urbana? Qual a saída? Será melhor aprofundarmos essa divisão entre urbano e rural? A urbanização também não é por si, sinônima de progresso.
Penso que devemos planejar o desenvolvimento para nossa cidade. Não para ser ela predominantemente ou exclusivamente urbana ou rural, mas um conjunto que, ao complementar-se, possa convergir e articular-se para melhoria de vida saudável para o povo. Precisamos prepará-la para ser urbana, como defende Gilberto Freire. Ou seja, conservar valores urbanos e rurais. Ser economicamente justa e ecologicamente sustentável. Ser o melhor lugar para se viver. Garantir as condições dignas de vida e de convivência. Unir a todos pela educação de nossas crianças e jovens. Combater o analfabetismo. Valorizar as pessoas. E, com capacidade de consciência moral, julgar e agir pelo bem estar de todos. Juntos, pensemos no desenvolvimento de uma Alto Alegre justa para todos.

Partimos do pressuposto que Alto Alegre do Pindaré possui uma posição privilegiada para enfrentar os enormes desafios de uma cidade próspera. Abriga um rio de água doce, grande extensão de terras cultiváveis, diversidade étnico-cultural, criatividade e uma rica variedade de riquezas naturais que são bases naturais do nosso desenvolvimento.

Não queremos o modelo de cidade, com base num entreposto comercial central, sem nenhuma produção econômica, mas com distintas bases econômicas sustentáveis.

Temos um povo alegre e trabalhador, lutador e resistente, com fé. Podemos fortalecer o trabalho do povo em várias frentes na agricultura, na pecuária, no comércio, no turismo, na cultura, no extrativismo, no cooperativismo, no setor público e no comércio. Desse modo, vamos aproveitar nossa diversidade socioambiental garantindo qualidade de vida dos nossos filhos hoje e no futuro, tendo na educação o alicerce dessa transformação.

Feliz Cidade.

Régina Galeno
Secretaria de Educação de Alto Alegre do Pindaré-MA

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