Regional

A preocupação com o desenvolvimento das cidades, estudada por muitos cientistas sociais, me leva a um olhar investigativo sobre a cidade de Alto Alegre do Pindaré. Mas, como distinguir entre fenômeno da inchação e a aparência de um crescimento da cidade, embora desordenado?
Culturalmente temos uma tendência a metropolização, apresentada como um salto civilizacional, com grande valorização do urbano, em superação ao rural e com a completa negação deste.
A partir desse pensamento, foram se constituindo as cidades brasileiras desarticuladas de potencialidades e estritamente urbanas. Nessa profunda contradição entre urbano e rural, estabeleceu-se o paradoxo de que o desenvolvimento chegará com o futuro. Mas, esquecem que o futuro é construído no agora. Daí minha inquietação. Qual será o futuro que teremos se em nome da modernização renegar-se a tradição, o saber erudito com o popular e intuitivo, a culinária local, os valores de nossos antepassados e sua ecologia. Em regra a futurologia dificilmente presa pelo bem estar social.
Preocupada com o desenvolvimento humano, compreendo que todos os arranjos criativos, produtivos, sociais, culturais e de convivência devem apresentar-se como um saudável desdobramento do que for qualitativo e quantitativo para a valorização de qualidades de vida e principalmente exprima a harmonização de uma consciência ecológica.
Nessa perspectiva, dialogarmos com os efeitos modernizadores do tempo presente é importante, contudo sem eliminar as diferentes experiências humanas e suas expressões fundamentais de convivência.
São várias as possibilidades negativas de desenvolvimento que ao defrontar-se com o poder político e econômico tornam-se avassaladores de culturas e vivências do povo.
É paradoxal a realidade. Mas, quando tomamos a abordagem homem-meio ambiente, mesmo ilógica e desfavorável economicamente, mas de grande importância qualitativa por representar a atenção a nossa gente, estamos validando o progresso.
O progresso não vem com o futuro. Ele é construído no agora e só será para todos se construído com justiça e igualdade, garantida a condição de liberdade, sem ônus, desde o dia de hoje.
Estatisticamente nossa cidade perdeu coeficiente populacional, mas esse não é o principal. O principal é avaliarmos quais os condicionamentos ecológicos, econômicos e sociais expressos no espaço tempo de nossa cidade que proveram o resultado.
Salvaguardadas as proporções estamos num processo de urbanização, mas às avessas, por se fazer excludente e com prejuízo social, se não ficarmos atentos e sensíveis as condições de vida dos nossos iguais tudo passará despercebido, aparentemente ao largo da existência do cidadão comum. Pequenos povoados se desfazem e sua gente o que faz, para onde vai? Este ano foi São João Mirim, um povoado criado desde 1965, com mais de 100 famílias, agora reduzido a apenas seis, que em 2010 modificaram toda sua vida, deixam suas casas e sua história em busca de um lugar melhor para viver.  A escola nunca chegou a ser construída para suas crianças, num barracão humilde, cedido pela igreja, estudam as poucas crianças que restaram. Imprensados por grandes proprietários de terra, as famílias estão de mudança para outros povoados ou para a sede do município. Teremos mais pressão por assistência social, saúde, emprego e educação dada à concentração de mais pessoas vivendo juntos num menor espaço urbano. Em quanto tempo o município perderá suas características rurais, dado o movimento populacional para sermos uma concentração urbana? Qual a saída? Será melhor aprofundarmos essa dicotomia entre urbano e rural? A urbanização também não é por si, sinônima de progresso.
Penso que devemos planejar o desenvolvimento para nossa cidade. Não para ser ela predominantemente ou exclusivamente urbana ou rural, mas um conjunto que ao complementar-se, possa convergir e articular-se para melhoria de vida saudável para o povo. Precisamos prepará-la para ser rurbana, como defende Gilberto Freire. Ou seja, conservar valores urbanos e rurais. Ser economicamente justa e ecologicamente sustentável. Ser o melhor lugar para se viver. Garantir as condições dignas de vida e de convivência. Unir a todos pela educação de nossas crianças e jovens. Combater o analfabetismo. Valorizar as pessoas. E com capacidade de consciência moral julgar e agir pelo bem estar de todos.
Régina Galeno
Secretaria de Educação de Alto Alegre do Pindaré-MA


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